152- Muleta
Já perceberam que quando apresentamos
algum fracasso em nossa caminhada sempre o apoiamos, justificamos em algo ou em
alguém?
Assim como alguém debilitado
ortopedicamente que precisa de muletas para caminhar, fazemos dos tropeços, justificativas
para a nossa falta de crescimento.
E como isso é cruel.
Outro dia em uma conversa
informal entre mães do futebol (enquanto aguardávamos nossos jogadores de
milhões) ouvi o desabafo de uma delas. Falando sobre relações familiares nos
confidenciou a situação de uma prima que já adulta, azucrinava a vida dos pais
pelo seu insucesso profissional.
Essa em todos os encontros reclamava
que a culpa de não ter conseguido um melhor emprego durante toda sua vida era
de seus pais por eles não a terem matriculado em escolas de inglês enquanto
criança. Por isso ela perdeu maravilhosas oportunidades.
Problema desabafado. Iniciaram as
perguntas dos que estavam na conversa. Tudo dentro do esperado.
Mas o que mais me causou espanto é
nossa inércia. Nosso olhar para uma normalidade, mesmo que chocante.
Durante a maior parte do tempo os
comentários foram em direção a criação dos pais.
Realmente é mais cômodo colocar o
que me falta nas costas do outro, sem enxergar minhas próprias competências.
Em uma análise rápida, se sua
ascensão profissional dependia o conhecimento da língua estrangeira, por que na
primeira oportunidade visualizada ela não captou verba e se matriculou em um
curso que lhe cabia no bolso?
Não consegui ficar só ouvindo e
tive que perguntar se a prima estava estudando, se esse era o problema e a
resposta que tivemos foi que não – “Ela diz que esta velha demais para
aprender, que não vale a pena. Mas que se tivesse feito quando criança tudo
teria sido diferente”.
E assim ela segue a vida apoiada
em sua muleta do insucesso.
Quantos são as nossas muletas?
- · Não sou feliz porque alguém..
- · Não tenho o melhor emprego porque ninguém me...
- · Meu cabelo não está bonito porque ....
- · Meu corpo esta feio porque ...
- · Não consigo fazer atividades físicas porque ...
- · Como muito porque ...
- · Não me arrumo porque ...
- · Pra que arrumar minha casa se ela ...
- · Estudar pra que já que não ...
- · Se eu tivesse um carro melhor eu..
São tantas as nossas
justificativas que esquecemos a principal lição da vida adulta. Colhemos os
frutos de nossas sementes lançadas.
Caminhante, são teus rastos o caminho, e
nada mais;
Caminhante, não há caminho, faz-se caminho
ao andar.
Ao andar faz-se o caminho, e ao olhar-se
para trás vê-se a senda que jamais se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho, somente sulcos
no mar.
Don António Machado (Poeta espanhol do
século 19)
Foto de Towfiqu barbhuiya na
Unsplash
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