151- A graça do cuidado
Lembro-me com clareza do dia da apresentação do meu Trabalho
de Conclusão do Curso (TCC) – em negrito propositalmente para dar a devida
importância ao evento.
Passada a última noite em conjunto a alguns colegas de sala
nos últimos ajustes para a grande apresentação de todos. Estômago corroendo de
ansiedade. Adrenalina correndo livremente pelo corpo sem vontade alguma de
fazer uma pausa. E uma grande questão em aberto.
Escuto dos meus pais a confiança de que tudo já tinha dado
certo e que era preciso dormir. Assim tentei.
Acordei cedo e fui para o trabalho. Esse que eu estava à pouco tempo, sem muita liberdade (porque a confiança se conquista com o tempo). Desenvolvi as atividades que me eram competentes pela manhã e no horário do almoço envio para uma colega de sala o programa para uma análise, porque eu não o queria apresentar com o que faltava.
Ela em um primeiro olhar não identifica
nada de errado e após muita insistência minha diz ser melhor a minha presença
ao seu lado para uma análise conjunta.
Conversei com a gerencia e ao encontro dela fui. Sem
almoçar, com a cabeça estourando de dor.
Quando lá cheguei, lembro que fui recebida carinhosamente
por um outro colega de profissão, que ria do meu desespero. Sua primeira
pergunta foi se eu tinha almoçado, com minha negativa ele nem me deixou ligar o
notebook. “Vá almoçar. Coma devagar, tome um suco e quando terminar coma um
chocolate. Traga um para mim também.” Obedeci.
Ao voltar um pouco menos afoita, sentamos para analisar
o programa.
Bastou apenas um olhar carinhoso pelas linhas desenvolvidas
para que se percebesse a falta de um ponto.
Lembro de me sentir tão pequena por não enxergar algo óbvio
e ao mesmo tempo alegrar-me pelo cuidado de Deus comigo naquela tarde.
Passada a correria ficou a gratidão pela missão cumprida,
TCC entregue e nota satisfatória.
Anos se passaram e me vejo novamente passar pela entrega do
trabalho. Agora não o meu, da preciosa BiLú.
O desespero agora estava nela, a correria, os questionamentos
e as incertezas. Nem precisei fazer o convite para que ela se juntasse a mim
porque ela mesmo se convidou.
Em uma tarde de jogo da copa a pessoinha se junta a nós e assisto nela o
episódio vivido por mim anos atrás.
E o que faltava no trabalho dela? Apenas detalhes que o desespero
não deixava os olhos verem, assim como aconteceu comigo.
E o final foi lindo, trabalho apresentado - (tive o prazer
de levá-la no dia da banca), merecidamente elogiado e com a nota desejada ao
coração de quem o preparou.
O que quero dizer com essa partilha?
Nossa vida é feita de detalhes, inúmeros. E por vezes a
correria do dia-a-dia, o stress, o acúmulo de obrigações nos cega e nos
desesperamos quando não conseguimos obter nossos resultados esperados.
Nesse momento precisamos do olhar misericordioso de alguém
que ria do nosso desespero e com generosidade nos mostre onde colocar o ponto.
Que a pedra no meio do caminho não seja motivo para o
término de nossa caminhada e a humildade seja nossa amiga, nos ensinando a
pedir ajuda.
Foto de John Schnobrich na Unsplash
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