163- Eu tenho certeza...
Voltando a memória, vejo que
desde os primeiros anos escolares sempre gostei muito da beleza das letras, do
encantamento de suas curvas, da musicalidade transmitido por
nossas vozes, da povoação de nosso imaginário na transcrição das mais belas
histórias nos livros infantis.
Tudo bem, não consigo mais disfarçar
... Assumo, sou uma apaixonada pelas letras.
Então vamos prosear.
Tínhamos nós saído da santa
missa, essa celebrada com a atenção voltada para as crianças. Resolvemos parar
em algum lugar para lanchar, um estabelecimento que ainda não conhecíamos. E
assim fizemos.
Lugar escolhido fomos nos
assentar. Tudo dentro da normalidade. As crianças desbravando o ambiente. E nós
adultos ficamos à mesa, observando, “trocando
uma ideia”, nos enamorando.
Um simpático garçom se coloca a
disposição, apresenta o cardápio, atende aos pedidos das crianças e vai ao
encontro dos demais que os chamam.
Enquanto isso temos a missão de
escolher o que experimentaríamos.
Eu com minha intolerância
eliminei 80% das opções, fizemos o pedido de um tira-gosto.
Quando ficou pronto, o garçom o
trouxe acompanhado de um creme delicioso. Digo delicioso porque as crianças por
tanto elogiarem tive que prova-lo.
Nesse momento o garçom volta a
nossa mesa, nos pergunta se estávamos bem servidos e eu o questiono sobre os
ingredientes do molho, já informando que não era a intenção copiar, mais por
segurança porque como estava bom demais eu temia que tivesse derivados de leite
em sua composição.
Ele sorriu amarelo e disse “tem
leite”, fiz aquela cara que vocês já imaginam e ele continuou “eu tenho certeza, porque quem faz os molhos
é a MINHA MÃE”.
Ah gente, a minha insatisfação
pela presença lactosística (não
existe essa palavra tá) até desapareceu momentaneamente.
O orgulho daquele profissional ao
se referir à SUA MÃE, validando a
qualidade do produto tocou meu coração.
Partilhamos a alegria dessa fala
em família e nossas crianças também se entusiasmaram. Foi lindo.
Tivemos por lá uma noite
muitíssimo agradável. Fomos agraciados com uma geleia – já que a pessoa aqui
não podia continuar com o outro creme.
Ao final, antes de fechar a conta
pedimos a caneta dele emprestada e deixamos um recadinho que deveria ser
entregue a senhora sua mãe. Claro que ele ficou curioso e leu né, e nos
agradeceu gentilmente.
Não posso com a lactose, mas fico
como a geradora dela... ruminando.
Achei tão valioso o brilho no
olhar daquele filho ao dizer que tinha certeza porque era sua mãe que produzia.
No mundo business (dos negócios) seria
mais fácil dizer que ele continha o ingrediente e pronto, mensagem entregue. Mas
não, ele sabia que o mais valioso é o laço, o afeto, a confiança.
Mesmo sendo adulto, profissional,
o sorriso no olhar ao dizer MINHA MÃE
foi o mesmo da criança que responde ao ser questionado quem fez o bolo
delicioso.
É necessário validar esses
momentos. O mundo tem andado estéril demais de bons sentimentos.
Estabelecimento: Recanto da Picanha - Ipatinga/MG
Foto de Petr Sevcovic na Unsplash
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