96- Desperdício...

É interessante pensar que quando nos falta algo é que realmente damos valor.

Esses dias conheci uma pessoinha (uso no diminutivo porque ela se fez bem pequena quando se apresentou), voz baixa, poucas palavras e sorriso lindo.

Ela me prestava um serviço, fiz algumas perguntas sobre, me respondeu bem objetivamente. Achei diferente seu sotaque e na primeira oportunidade lhe perguntei: “De onde vem esse sotaque lindo moça?”, ela sorriu e disse que não era brasileira.

Foi à deixa, sua resposta me instigou a querer saber mais sobre sua cidadania e sobre o motivo pelo qual tinha aterrissado em terras brasileiras.

Nesse momento me fitou os olhos e respondeu suavemente “Onde morávamos passávamos fome”.

A suavidade da resposta fez uma lança adentrar meu coração...

Vemos noticiários diariamente sobre as dificuldades que pessoas do nosso país e do exterior passam. Sobre não ter o que comer, sobre não ter como comprar, sobre mendigar enquanto tiver forçar. Mas fica tudo no noticiário. Acreditamos que tamanha miséria humana e financeira esta muito longe de nós, quando na verdade ela bate a nossa porta de forma desesperada.

Comecei a lhe observar enquanto me atendia. Percebi muitas coisas, mas uma me chamou mais a atenção. Ela trabalhava de forma a não perder o produto que utilizava, consumindo somente o suficiente.  Ao terminar ela não tinha muito que corrigir e muito menos perdido seu valioso produto.

Voltei para casa pensativa e quando apresentei a situação ao meu esposo não consegui terminar o assunto sem antes chorar. Quando ele me olhou, perguntou brincando se ela tinha me machucado. E eu com lágrimas nos olhos o respondi: “é muito triste saber que uma pessoa do nosso lado passou fome”.

Essa pessoinha ao me atender trouxe uma mensagem forte sobre o quanto desperdiçamos.

Desperdiçamos tempo, palavras, sentimentos, pessoas, alimentos, água... Deixamos muita coisa escapar entre nossos dedos e não percebemos porque temos em abundância.

E como será quando não tivermos mais? Ficaremos na saudade.

A pessoinha teve a oportunidade de recomeçar e tem trabalhado ardorosamente em prol disso.

E eu, e nós, será que conseguimos identificar nossos desperdícios e aceitamos recomeçar?? Ou preferimos ficar mendigando até quando tivermos forças?

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