161- Sofá

 


Organizar meu exterior me ajuda manter a ordem interna e isso não é segredo para os que aqui me acompanham.

E nessa lógica, outro dia, na rotina (substantivo feminino – sequência dos procedimentos, dos costumes habituais) da limpeza doméstica, me peguei refletindo sobre o por trás do sofá.

Sou daquelas que gostam de arrastar os móveis pra varrer os cantinhos. É prazeroso, se é que me entendem.

Mas nem sempre o trabalho de varrer para manter uma ordem necessária possibilita a atividade prazerosa. E o sofá permanece ali, estático, imóvel. O que se esconde por trás ninguém sabe. Será o nosso segredo.

Fazendo essa análise sobre a minha rotina doméstica, voltam em minha memória várias situações em que estando na casa de algum colega, se algo caia atrás do sofá por vezes ouvia prontamente a dona da casa dizer que podia deixar que ela resolveria sem a nossa intervenção. E agora entendo, não era somente boa vontade, estávamos invadindo o segredo dela, o espaço que ela não queria que os outros vissem naquele momento. Também entendo suas frustações quando pelos excessos juvenis, seu clamor não foi ouvido e ao ter seu sofá arrastado ainda teve que ouvir “nossa, como esta sujo por aqui”.

Em nossas vidas temos várias situações resguardadas por alguns sofás.

Em dias de faxina estrutural, onde estamos disponíveis a reconhecer nossas misérias, as varremos e lançamos ao lixo cada cisquinho armazenado nos cantos de nossa história. Por vezes sentimos prazer nessa tarefa, e em outros nem tanto, fazemos por ser necessário, mesmo doendo no alma.

“ ...faz o que deves e está no que fazes...” (S. Josemaria Escrivá)

Esse processo é individual e sagrado. Faxinar requer tempo e vontade.

Posso participar da história do outro, mas não tenho direito de expor suas misérias, seus segredos, suas sujeiras por de trás do sofá. Às vezes ele teve tempo somente de varrer os meios e não o profundo.

 

 

Foto de Naomi Hébert na Unsplash

 

Comentários

Elias Silva disse…
Reflexão maravilhosa e super verdadeira. Obrigado minha querida irmã Hathyelle por compartilhar dessas palavras tão fortes! Parabéns!
Ah quantos sofás e quantos segredos...É preciso mesmo respeitar esse sagrado pessoal de cada um. Afinal, se esses "segredos" guardam nossa vulnerabilidade e nosso direito de não poder, ou não querer mexer agora nisso que nos é difícil, por um lado, por outro nos protegem e nos preparam para o que há de vir. Importante é reconhecer que a bagunça está lá, mas não nos pertence. Não somos feitos de ou para ela. E no momento oportuno, tirar um tempo para revisitar e limpar!
Wanessa disse…
Linda reflexão minha amiga!
Carol Dutra disse…
Que lindo e verdadeiro 👏👏
Ivaldete disse…
Bom dia minha sobrinha escritora favorita!! Como sempre vc é feliz e sábia em suas postagens. Quantos segredos mal resolvidos ainda escondemos por trás do sofá né! Quantas pendências que ainda hj depois de muiiitos anos ainda nos atormentam por não termos esmiuçados tais "segredinhos". Mas ainda há tempo né! Enquanto VIDA tivermos somos responsáveis pelos nossos segredos, nossos lixos invisíveis aos olhos dos outros,mas não aos olhos de nossa alma. Ops! encontrei um segredinho aqui deixa eu tentar deixá-lo transparente, leve e suave diante dos olhos do meu EU . Beijos Tititi

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