141- Saudades
“Só tem saudades do que é bom, chorei de saudades não foi por fraqueza,
foi porque amei...”
Buscando no dicionário encontro a
seguinte definição para a palavra:
saudade
substantivo feminino
1.
1.
sentimento melancólico devido ao afastamento de uma
pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já
vividas (freq. us. tb. no pl.).
Questionando sobre quando senti a
primeira grande saudade encontrei na memória afetiva flashes de minha avó materna. Lembrei de momentos, dos carinhos,
dos passeio dentro do quintal para buscar morangos (talvez seja por isso minha
predileção pela fruta), da sua ausência dentro de casa porque estava
hospitalizada, seu retorno, sua despedida no olhar e logo depois sua partida.
Nesse tempo nós já havíamos
despedido de um tio, mas eu era bem novinha e não tenho memórias de sua
presença. Então, não ignoro o sentimento vivido pelos meus, mas não compartilho
com intensidade.
Depois desse momento parece que
iniciou em mim o entendimento de que a vida era muito mais do que brincar, era
sobre chegadas e partidas.
Enquanto criança as chegadas eram
muito maiores do que as partidas.
Lembro de colegas da
escola, do bairro que partiram e de partilhar com alguns as dores da saudade.
Com o passar do tempo a filosofia
de chegar e partir parece caminhar lado a lado.
Coleciono grandes saudades. Umas
não me trazem mais a dor, suas lembranças trazem conforto e carinho, o tempo se
responsabilizou por sarar a ferida aberta. Outras ... aiai, fazem o coração
doer e as lágrimas caírem, a ferida insiste em não fechar, ainda não chegou o
tempo.
Dentro do potinho da saudade
encontramos vários tipos de depósitos. Saudades dos que partiram e não mais
voltarão, saudades dos que estão distante, saudades do que vivemos e saudades
do que nem vivemos. Sim, essa última é bem verdadeira.
Não conheci meus avós paternos
... e olha, sempre que os apresento em minhas orações sinto saudades do que não
vivi, dos casos que não ouvi, dos encontros que não tive e das histórias que
não partilhamos.
O fato de não termos nos
conhecido não tira de mim o afeto, o que torna especial essa relação.
Quando lembro dos meus avós
maternos, sinto saudades do que vivi, dos cheiros que senti, dos abraços que
ofertei e recebi e principalmente sinto saudades de tudo que não pude viver com
eles, das experiências que não trocamos.
O coração chega ficar
apertadinho.
Lembrar dos que se foram é honrar
sua trajetória.
Entre chegadas e partidas vamos
construindo nossas histórias.
Ao observar um vaso de samambaia
em casa entendi com clareza que pra tudo existe um tempo certo, como escrito na
escritura.
Para tudo há uma ocasião, e um tempo para
cada propósito debaixo do céu:
tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo
de arrancar o que se plantou,
tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de
construir,
tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de
dançar,
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de
abraçar e tempo de se conter,
tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e
tempo de lançar fora,
tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo
de falar,
tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de
viver em paz.
Eclesiastes 3:1-8
Imagem: acervo pessoal
Nome da canção que abre o texto:
Saudade (Nelsinho Corrêa)
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