125- Carta aberta ao meu Irmão
Múltiplas são as formas que o Pai encontra de nos abençoar, e uma delas é a Fraternidade.
Sou uma pessoa grata (vocês já perceberam isso). Nasci em uma família amorosa, com pais carinhosos e dedicados e um irmão cheio de adjetivos. Nossos pais têm 4 filhos – dois no céu intercedendo por nós, então tenho 3 irmãos. Como nossa caçulinha esta no céu velando por nós fico sendo aqui na terra a mais nova da casa.
Cheguei à família quando meu irmão já tinha 6 anos (pensa... por mais que ele também quisesse não deve ter sido fácil, dividir a atenção que era exclusiva dele agora com uma pequena pirralha).
Não tenho muitas lembranças afetivas de nossa infância até os 5 anos. Mas pelo que contam e pelas fotos que colecionamos, eu fui muito bem cuidado por ele.
Após os 6 anos as lembranças são claras... Lembro as implicâncias de ambos, das brigas por motivos justos e também pelas sem motivos. Das comparações que eu sempre fazia, por não poder ir onde ele ia (nossa diferença de idade é de 6 anos), tinha certeza que eu deveria ter o mesmo direito de ir e vir dele (kkk melhor nem comentar né).
E na adolescência.. Jesus... Ele que já estava na juventude com seus pensamentos racionais e eu em minha adolescência emocional cheia de razões. Como eu participava bastante dos movimentos da igreja e da escola, estava sempre rodeada de amigos. Recordo bem dele dizendo “Como é possível ter tantos amigos? Amigos de verdade não enchem uma mão” eu o criticava – pior, não o entendia.
Mesmo não tendo uma mesma linha de pensamentos e atitudes, fomos sempre bem grudados. Foi ele que me levou para cortar os cabelos (tinha cabelos longos, cacheados e volumosos). Voltei do salão satisfeita, com o cabelo estilo Joãozinho. Isso próximo ao aniversário de 15 anos. Ninguém conseguia entender minha satisfação, mas ele sim.
Ele conhecia meu gosto por roupas, meu estilo de musica (muito diferente do dele “Hoje eu morri, mas amanhã eu não morro”) e minhas preferências gastronômicas. O esperava chegar de suas saídas para “serrar” seu mexidão. Ele sabia disso. Por muitas vezes tentei fazer dele um apaixonado por macarrão branco – sem sucesso.
Foi ele também sempre o primeiro a tentar me persuadir quanto as minhas escolhas escolares, quando era necessário mudar de escola. Seus olhares eram sempre para o que fosse melhor em um futuro próximo.
Tinha... Ou melhor tem o dom de me incomodar quando minha opção é ficar quieta. Lembro que quando ainda solteiros ele acordava mais cedo aos sábados só para colocar o som alto e me tirar do sério – eu que já tenho a fama de não ser bem humorada ao levantar. Já puxou a coberta e me fez cair cama. Já bateu na janela. Então imaginem como eu levantava!!!
Ele tem uma facilidade incrível de aprendizado... Sempre teve. Mas não é muito a sua praia ensinar. Um dia depois de muito insistir e sempre ter uma negativa, ele se dispôs a me ensinar um exercício de química (já que ele técnico em química, queria aproveitar seus conhecimentos). Desafio finalizado e ambos satisfeitos com o resultado.... ufaa!!
Enquanto ele aprende no olhar e escutar... Eu preciso ler escrever, rascunhar. O cara é fera.
Aiaiai... também não posso deixar de falar que sempre, sempre, sempre foi muito ciumento o que me dava a oportunidade de ser também.
Ao casar ele e sua esposa (amada cunhada) optaram por construir um apartamento em cima da casa dos nossos pais. Estive com ele durante todo o dia da cerimonia, como se estivesse despedindo. Eles ficaram fora alguns dias em lua de mel e quando voltaram eu estava no trabalho. Lembro que quando voltei ele estava no muro me esperando chegar. Abri o portão e nos demos um abraço longo e cheio de ternura. Ah tá... Continuávamos morando no mesmo endereço, só em pisos diferentes.
Somos em nossas diferenças bem iguais.
Assim como nossos pais, ele sempre foi presente em minhas primeiras conquistas. Sempre vibrou com minhas vitórias e nas derrotas, foi sempre meu ombro amigo, sem muito dizer – na verdade nem era preciso, seus olhos verdes folha seca ao fitar os meus já dizem tudo o que eu preciso ouvir.
Demorei um pouco a fazer a opção pela faculdade. Lembro-me que fiz a inscrição e só avisei que faria a prova dois dias antes dela acontecer. “Vai com calma que você consegue” essa foi à fala dele. Passado o final de semana das provas foi ele o primeiro a ver o resultado e me ligar em euforia no trabalho.
No final do curso se fez presente no empréstimo do carro para que fosse possível levar todo o material para a apresentação do TCC. No baile escalado para a valsa, assim como meu pai e meu esposo (que na época éramos apenas amigos).
Somos duas pessoas de temperamentos fortes, mas ele sempre foi o mais bravo, o mais turrão. Pessoa imensamente agradável, de sorriso fácil, mas também bem encrenqueiro quando quer ser. Devoto desde sempre de São José e se assemelham pela dedicação à família.
Ah sim, não posso esquecer. Ele tem uma facilidade gigante de fazer com que eu tenha vontade de rir e não poder com seus comentários ao pé do ouvido. Há tempos tenho evitado ficar ao seu lado em momentos delicados.
Quando noivamos (eu e esposo) ele não pode ser presente fisicamente. Aguardou um tempo (porque ele já sabia) e me ligou todo feliz. Acolheu meu esposo como irmão.
Esteve comigo durante todo o processo pré-casório. Perguntando sempre se estava tudo bem, se eu precisava de alguma coisa. Na noite, se prontificou a me buscar no salão. Foi pontual como nunca tinha visto. Estávamos adiantado e com isso ele resolveu fazer um tour pela cidade comigo, sem dizer muitas palavras ligou o som do carro e deixou passar uma bela canção. Lágrimas caíram, na verdade foi somente com ele que chorei! Ele sabia que aquele estava sendo um dos dias mais felizes de minha vida.
Nossa relação é refletida no carinho para com nossos filhos. Sou madrinha dos dele. E seus filhos padrinhos dos nossos. Tudo junto e misturado.
Não somos de ligações, o lado prático de ambos faz com que as mensagens funcionem melhor. Mas é só abrir nossas contas que muitas declarações e bênçãos aparecerão.
São tantos momentos, tantos sorrisos, tantas pirraças (de ambos) que nossa história dá facilmente um livro delicioso de se ler.
Estamos juntos em nossas vitórias e também em nossas batalhas perdidas. Seja com uma palavra, um sorriso ou apenas um olhar.
E como não ser grata ao Criador por ter me colocado em um lar tão abençoado e ser digna de um irmão tão especial. Só tenho que agradecer. Que o Senhor nos conceda a graça de chegarmos a casa dos 90 juntos.
A aquele que me conhece pela respiração, que já se incomodou com o meu piscar minha imensa gratidão por ser quem é e me aceitar do jeito que sou. Eu te amo!!!
E você... Como é a relação com seu (seus) irmãos??
#gratidao #restabeleça #fraternidade #teamo
Foto: Acervo particular
Comentários