87- Castelo interior!
Quando conversamos com pessoas e
conseguimos ultrapassar a barreira do superficial alcançamos uma área muito íntima
do outro. E esse é um processo delicado.
Outro dia estava tendo uma
conversa casual com um conhecido, lembramo-nos de um passado próximo, demos
algumas risadas, respondemos alguns questionamentos, tudo dentro de um padrão.
De repente senti que as coisas não estavam tão bem assim como havia pintado... O
tempo parece ter parado e antes mesmo de que eu fizesse a pergunta ele me olhou
nos olhos e partilhou a dor por acompanhar um ente querido acamado há anos.
Gente... minha primeira reação
foi a de silenciar, de digerir o que estava ouvindo. Como se estivesse em um
filme, passou em minha mente vários momentos felizes com esse conhecido, várias
conquistas e não conseguia identificar onde eu tinha falhado na percepção, o
que tinha escapulido entre meus dedos para que eu pudesse ter sido tão
insensível a dor dele. Mas antes que eu pudesse encontrar uma resposta racional
o olhei nos olhos e encontrei ali, nesse momento a resposta mais sincera...A
superficialidade esconde nosso castelo interior.
Dentro desse castelo temos várias
janelas e cada uma corresponde a um cômodo. As janelas da frente são visíveis a
maior parte dos que nos rodeiam, o acesso é mais fácil. Por elas conseguimos
ouvir os barulhos externos e conseguimos também maior proximidade com os que por
ela passam. O castelo é muito grande, andando pelos corredores encontramos
outros cômodos, esses já não tem mais as janelas expostas, o acesso necessita
de permissão, de algumas chaves. Cabe ao dono do castelo abrir ou não esses
cômodos.
Com a vida corrida estamos sempre
mais próximos das janelas externas do outro. As postagens diárias, as fotos bem
tiradas, os lugares legais, as festas, os sorrisos, os brindes nos fazem
próximos do superficial. Pouco nos dizem sobre o que acontece dentro dos cômodos
mais reservados.
Quantos são os dramas internos,
as lutas diárias, as feridas abertas!
Por muito rotulamos o outro como
sendo Feliz, Realizado, Festeiro... por Ostentar e pouco sabemos sobre o que lhe
tira o sono, sobre o que faz suas lágrimas rolarem.
Ninguém tem a obrigação de manter sempre abertas todas as portas de seu castelo.
Quando conseguimos a confiança do
outro e recebemos dele as chaves para abrir alguns dos cômodos privados
encontramos uma realidade bem diferente da pintada na faixada. Por muito nos
culpamos pelas críticas, pela insensibilidade. Essa culpa não nos pertence e
não somos insensíveis. Somos sim “ignorantes” (que desconhece a existência de algo; que não está a par de alguma
coisa).
O outro pode não querer algum
tipo de ajuda... Então não se apresse em ser solícito. Ele pode apenas querer
partilhar um pouco do peso que carrega. Palavras partilhadas tem o poder de
aliviar a alma, de abastecer as energias para que possa dar continuidade à
caminhada.
Olhando por essa ótica pouco conhecemos
da história dos que nos rodeiam, não é mesmo?
Como esta seu Castelo Interior???
Quais são os segredos guardados nos cômodos chaveados?
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