85- Nossas marchas!
Quem tem autorização para dirigir
– CNH, sabe bem como é todo o processo. Quando se consegue a aprovação temos a
falsa idéia de que já sabemos dirigir, o que acontece é que ao ser aprovado o
cidadão esta oficialmente habilitado para iniciar seu processo de aprendizado
diário sobre o que é dirigir.
E comigo não poderia ser
diferente. Consegui minha autorização depois de 2 reprovações dolorosas
(dolorosa porque é um custo cada reprovação e quando não se tem muito, qualquer
valor que se perde é bem penoso).
Quando era mais nova falava aos
meus amigos que quando fizesse 18 anos iria tirar minha carteira para poder
viajar para a cidade natal dos meus pais sempre que possível. A realidade foi
bem outra.
Coloquei muitas prioridades a frente da minha tão sonhada carteira e
só iniciei o processo depois que finalizei minha graduação e já estava no meio
da pós.
Quando ela então chegou existia
em mim uma euforia misturada com medo (uma dose maior de medo do que de
euforia). Amigos próximos sempre disponibilizavam seus carros para que eu
pudesse treinar. Meu esposo (na época então namorado) sempre disposto a
ensinar, meu pai, meu irmão, todos bastante disponíveis, mas em minha não
existia uma vontade que me motivasse a mudar a marcha.
O tempo foi passando, a
necessidade aparecendo e tive então que utilizar mais rotineiramente da direção
de nosso carro para realizar as mais diversas tarefas. Cada vez que eu entrava
no carro para dirigir era como se eu estivesse indo fazer uma prova na
faculdade – Pare no Pare, acelere um pouco e depois mude de marcha, ouça o
motor, mude de marcha sempre que achar a direção pesada, sempre que diminuir a
velocidade altere a marcha, olhe para direita, olhe para a esquerda, olhe para
traz, dirija para você e pelo outro, seja tranquila e confiante, só ultrapasse
se tiver certeza... Antes de iniciar o processo eu já estava com a mente
cansada e com o corpo doendo de tensão.
Iniciava o processo e sempre tive
uma certa dificuldade com a segunda marcha, acelerava (ou ainda acelero) muito
antes de mudar – tipo os antigos playboys. Ficava travada, ao meu ver todo
mundo estava e criticando. Passava a segunda, logo depois a terceira e só
conseguia chegar até a quarta. Reduzir era sempre um sofrimento, o carro
chicoteava (balançava bruscamente). Dar ré uma tensão extra – vou bater.
Os dias passam os medos
diminuindo de tamanho e a segurança começa a ter um espaço maior.
Outro dia me desafiei a chegar
até a quinta marcha...aiaia. Estudei o cambio direitim, mentalizei a forma correta de engatar a marcha e entrei
no carro. Sai rumo aos meus compromissos e quando estava em um determinado
ponto da via, ouvi o motor e fui passando as marchas até chegar à quinta...
ufa... que delícia, a direção estava leve, o motor não roncava, nunca foi tão
prazeroso dirigir. Consegui até curtir a música que estava tocando. Até então
ótimo, cumpri o desafio imposto por mim, mas o carro me impôs um novo
desafio... quero ver você reduzir corretamente até chegar ao
quebra-mola...respirei profundo e fui em direção ao então redutor de
velocidade. Fiz tudo direitinho, reduzi todas com tranquilidade e segui viagem.
A minha vontade era de abrir as janelas do carro e gritar.... Eu Consegui!!!!
Mas com a vida acelerada que temos se eu tivesse tomado essa atitude os demais
motoristas pensariam que estava tendo algum mal subido.
Meu desafio aumenta a cada dia...
dar ré com tranquilidade, estacionar corretamente e tão tenebrosa baliza...
aiai, essa eu consegui fazer hoje, foi tão bonito que achei que estava fazendo
exame novamente.
Então você deve estar se
perguntando o que isso tem haver com nossas postagens... e vou te responder.
Tem tudo haver.
Nossa vida é uma estrada e nós
somos passageiros dentro de um carro. Adquirimos nossa autorização para dirigir
quando nascemos e por um longo período ficamos somente com o carro ligado
escutando os mais experientes. Depois aceleramos um pouco e então engatamos a
primeira marcha, ela por sua vez é pesada, exige uma força maior do motor, são
muitos os aprendizados. O tempo vai passando e com ela a exigência de engatar
novas marchas, às vezes são as mais leves e em outros momentos as mais pesadas.
Quando tomamos a direção equivocada talvez seja possível somente retornar, voltar,
mas por um novo caminho. Em outros momentos, quando tomamos a direção errada
precisamos engatar uma ré, voltar pelo mesmo caminho para então verificamos
onde aconteceu o erro. Para cada situação uma ação. A vida vai seguindo e por
muitas vezes aceleramos demais e não nos damos conta da beleza da via, quando
damos conta disso à parada é obrigatória.
Meu processo diário ao volante
tem me feito pensar muito sobre isso, sobre os momentos de nossas vidas, sobre
as necessidades de acelerar e reduzir, sobre escutar o motor (coração) e sobre
parar quando é necessário.
Em minha vida muitas são as áreas
que precisam ser aceleradas, estimuladas. Para que isso aconteça preciso
desacelerar na via em que estou e retornar para essas áreas e nelas não me
acomodar na primeira marcha.
Então...Vamos que vamos, mantendo
o carro abastecido com bons ensinamentos e escutando o motor em direção aos
melhores caminhos de nossa vida.
O carro de sua vida esta andando
como?
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